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A BANCA DE JORNAL

Por: EDSON TALARICO

A BANCA DE JORNAL

 

 

Com muito orgulho posso dizer que a primeira banca de jornal no bairro do Capão Redondo foi instalada pelo meu pai e eu fui o primeiro a tomar conta da mesma , lá pelos idos de 1961/1962.

No começo eram 2 caixotes encostados na parede da padaria do Oswaldo onde se colocavam os jornais em cima.

Depois foi confeccionada uma banca que podia se abrir e fechar as portas e, em suas partes internas, as revistas serem expostas para uma visibilidade melhor dos transeuntes.

Meu pai era, na época, motorista do Capãozinho na linha noturna, um horário bastante puxado, porém, permitia que ele pegasse o jornal na banca em frente à garagem de madrugada e deixar na minha mão no raiar do dia.

Eu, recém saído do Seminário, morrendo de raiva do urubu do Padre Martinho, doido prá trabalhar e mostrar que eu tinha competência, fui vender jornais.

O negócio ia muito bem, mas, para variar, nem tudo eram flores. Logo expandiu, o número de revistas e jornais foi aumentando.

Nessa época aportaram na Vila do Sapo umas famílias vindas de Minas. Um monte de mineiros invocados. Um tal de Tião, Miltão, Tonhão, etc Tudo ão... Grandão...

Viviam, praticamente, o dia inteiro em volta da padaria, e, lógico, me enchendo o saco na Banca. Eles teimavam em olhar as revistas, que, na época vinham lacradas com uma espécie de cola vermelha que não permitiam que fossem foliadas.

Eles, os mineiros, muitas vezes insistiam que tinham o direito de quebrar o lacre para ver se queriam ou não comprar a revista. Claro, que tudo isso era prá me provocar.

Eu, naquele tempo, era um moleque chato. Não podia mexer nas revistas e pronto. Eu ficava em pé no espaço entre os caixotes e a banca e era por ali que eles queriam passar e eu não deixava.

- A rua é publica...

- Como que eu vou comprar a revista se não posso ver o que tem dentro...

- E se eu pegar a revista e abrir o que é que você vai fazer ??

Evidente que eu morria de medo. Afinal eles eram grandões. Eu estava ali sozinho.

O Tião era uns 2 ou 3 anos mais velho que eu. Regulava com a idade do Wagner. Ele tinha uma raiva danada de mim.

- Molequinho nojento!! Se eu pudesse dava uns cascudos nele... Vou botar o Tonho prá dar uma lição nesse merdinha....

Um dia o Tonho resolveu me afrontar. Parou bem no meu espaço. Eu precisando trabalhar, atender os clientes e ele ali, atrapalhando. Eu falava:

- Dá licença...

Ele se fazia de surdo... Não saia... Os outros moleques provocando.

- Empurra ele... Você não tem coragem...

Eu e o Tonho, frente a frente. Cara a Cara. O Tião colocou a mão entre nós dois:

- Quem for Homem cospe aqui...

O Tonho cuspiu. O Tião tirou a mão, pegou no meu rosto.

O sangue subiu. A vista escureceu. Eu comecei a dar murros na cara do sujeito. Encurralei o moleque atrás da banca, contra a parede da padaria, e desfechei uma saraivada de socos e pontapés e só parei quando o melado começou a descer. O sangue jorrava. Os outros moleques ficaram sem ação. O Tião entrou no meio e apartou a briga. Chegaram outros e ajudaram a apartar. O Tonho saiu chorando. Eu comecei a chorar também de raiva.

Dali prá frente não me perturbaram mais. Depois disso o próprio Tião que virou meu amigo contou que ele é que tinha armado a briga prá que eu me desse mal.

 

Alguns clientes resolveram pedir o jornal em casa. Lógico que naquele tempo não existia o termo “Delivery” mas, eu já fazia isso em 1962.

Sempre fui doido por figurinhas e por bicicleta. Como trabalhava na banca, comecei a preencher um álbum de figurinhas através do qual você podia ganhar uma bicicleta Caloi, ou uma Bola de Futebol, um conjunto de Panelas, etc.

Tudo dependia de juntar as figurinhas que formavam a figura do prêmio que você ganharia.

A minha página da bicicleta estava quase cheia, mas, faltavam as principais. As mais difíceis, as figurinhas carimbadas.

Eu tinha quase todas quando um alemão que morava atrás do convento das irmãs fez uma proposta pra que eu fosse entregar o Jornal Alemão “Deutsche Nachrichten” na casa dele. Era uma caminhada e tanto. O Alemão então me prometeu que me daria uma boa gorgeta no final que cada mês.

- Você entrega a jornal no meu casa todos os dias. Eu paga a jornal para sua pai no final da mês e dá ‘tantas’ cruzeiras para você de presente.

Não sei mais dizer quanto em valores da época mas deveriam ser uns R$ 30,00 no valor de hoje.

Era o dinheiro que eu precisava. Com ele eu poderia comprar a figurinha que me faltava para completar o álbum, pois, eu sabia quem a tinha.

Dia após dia, suando embaixo de sol ou, ensopado sob intensa chuva, lá ia eu entregar o jornal ‘maledeto’. Sempre pensando na minha bicicleta...

Caloi, Aro 24, Vermelha, igual à do Jorge da Dona Tereza...

O Alemão pegava o jornal e nem me olhava na cara. Eu contando os dias que faltavam para completar o mês.

Finalmente chegou o último dia. Fui com o coração pulando. Cheguei em frente ao portão Alvoroçado. Bati palmas, ansioso.

O Alemão saiu do mesmo jeito de sempre. Pegou o jornal e não olhou na minha cara. Fiquei esperando. Ele deu as costas fingindo que lia o jornal e voltou prá casa.

Pensei em chamá-lo, desisti.

Soube que ele pagou os jornais para o meu pai e não deu nada prá mim.

Nos dias seguintes entreguei o jornal do mesmo jeito. Sempre na esperança que ele se lembrasse da promessa.

A minha figurinha que eu perseguia tanto foi se embora. O menino que a possuía, vendera para outra pessoa.

Um dia resolvi. Vou cobrar afinal ele me prometeu... Cheguei vacilante...

- ...Seo Fritz o senhor disse que ia me dar um dinheiro se eu entregasse o jornal na sua casa....

O Homem ficou vermelho. Era visível a cólera que o assaltava. Eu fiquei com medo e fui me encolhendo....

- QUEM VOCE PENSA QUE É. EU PAGUEI A JORNAL PARA A SUA PAI. NÃO DEVO NADA PRA NINGUÉM.... NÃO QUERO NINGUEM ME COBRANDO NO MEU CASA... VOU FALAR PARA O SUA PAI...

Meu Deus!!! Só falta essa!!! O homem além de não cumprir o prometido ainda vai fazer eu tomar uma tremenda surra do meu pai...

Sai de fininho e não comentei nada com ninguém. Na minha cabeça a bicicleta Caloi, Aro 24,.... virou sorvete...

Continuei entregando o jornal...

O Alemão continuou a pegar o jornal sem olhar na minha cara.

 

Definitivamente, Eu não me dei bem com os alemães que conheci...

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